sábado, 11 de maio de 2019

E o sofrimento?


A realidade na qual vivemos atualmente é uma onde o individualismo e a soberba tem tomado conta. Mesmo com tantas mídias sociais, possibilidades de deslocamento e contato, o que acontece é que cada um está encurvado sobre si mesmo, alimentando sua falsa impressão de autossuficiência e encontrando formas de propagandear seu sucesso que (evidentemente!) é mais do que merecido (ou, no mínimo, digno de ser anunciado).
É uma realidade na qual o outro não tem vez, visto que cada um tem que conquistar seu próprio espaço e prosperidade. Além disso, nunca sobra tempo pois há muito o que fazer além do trabalho. Por fim, é uma realidade que não abre as portas para o sofrimento. E se colocar ao lado das pessoas pode ser muito trabalhoso, logo, é melhor nem começar.
Há todo um arsenal de elementos que nos empurra a esse mindset, a essa forma de pensar. Primeiro, o pecado que está em nós. Depois, todos os conceitos pré-moldados divulgados em grande parte pela mídia em geral. Uma pessoa deve ser bem sucedida e pode mostrar isso com um carro assim, uma roupa assim, esse ou aquele hábito, postura, expressão, e por aí vai uma infinidade de determinações das quais, muitas vezes, nem nos damos conta. Tão-somente as absorvemos e externalizamos consciente ou inconscientemente.
Vive cada um em sua própria utopia, seu mundo, sua caixa sem qualquer fresta para espiar que a realidade, na verdade, é bem outra. Que há gente sofrendo física, emocional e espiritualmente. Gente que Deus criou, amou e quer salvar e trazer a certeza da sua presença pela nossa própria presença.
Não é preciso nenhum esforço para perceber que o mundo no qual vivemos, um mundo contaminado pelo pecado, é um mundo de sofrimento. Jesus não hesitou em dizer que no mundo nós vamos sofrer (Jo 16.33). Ao mesmo tempo, ele conforta a todos quantos creem com a lembrança de que ele venceu o mundo. É por isso que, como cristãos, somos chamados a também servir como ele nos serviu. A nos ignorarmos como ele se ignorou e fez tudo por nós, carregando inclusive nosso sofrimento e morte para o alto da cruz.
Deus quer que nos alegremos em carregar a cruz do nosso próximo (Gl 6.2). E ele nos capacita para isso quando nos dá o Espírito Santo e munda toda nossa maneira de pensar. Dá-nos um coração e mente absolutamente novos. Uma nova vida onde o individualismo e a soberba não fazem sentido algum.
E já que é Dia das mães, não há como não recordar do que Deus disse por meio do profeta Isaías: Por acaso uma mãe pode esquecer o seu filho? Sabendo, porém, até onde vai a maldade humana, Deus continua: Eu, todavia, não me esquecerei de ti. É aí que se encontra o nosso consolo no sofrimento. Não em nós mesmos. Não em lutar contra o sofrimento. Mas naquele que tudo sofreu por nós, não negando nem mesmo o Filho unigênito para sofrer o que verdadeiramente é do nosso merecimento.
Deus não esquece da gente. De gente como a gente. Gente fraca, insignificante. Gente que sofre e não tem nada a oferecer. Somos, não obstante, os mais felizes de todos, pois somos amados por Deus. Criados por ele para ele mesmo. Para vivermos com ele eternamente onde não existe luto, nem pranto, nem dor, graças a Jesus Cristo, nosso salvador.
Que ele fortaleça diariamente essa certeza no nosso coração e nos permita levarmos o consolo do Cristo crucificado para aqueles que carregam a sua cruz.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Vivendo sabiamente na era da informação

Vivemos na era da informação. Mensagens, recados ou mesmo textos enormes atravessam continentes em tempo absurdamente pequeno. Aplicativos como o What’s App facilitam e agilizam a comunicação entre amigos consideravelmente. Não há dúvida de que toda essa tecnologia é útil e contribui em grande medida na comunicação e pode ser um aliado nosso na propagação do Evangelho.
Ao mesmo tempo, porém, é preciso estar atento ao fato de que todo tipo de informação circula pelos meios de comunicação. O que significa que nem tudo é bom. Há também muitos “textos-lobos” disfarçados de “textos-cordeiros”. Ou seja, aparentemente são bonitos e contêm grandes e impactantes verdades. No entanto, “por dentro”, no conteúdo, o que há é grande nocividade e incoerência bíblica. Assim, no tocante a notícias, mensagens, etc., todo o cuidado é sempre pouco.
Aqui, portanto, se aplica muito bem a palavra do apóstolo Pedro que exorta: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Também o Mestre diz isso em Jo 5.39. Sim, o único jeito de aprendermos a lidar com esse bombardeio de informações que vêm a nós pelo celular, televisão, rádio, internet, é conhecendo bem a palavra de Deus. Dessa forma, nossos olhos e ouvidos se tornarão como radares diante de mensagens que não condizem com a palavra de Deus e imediatamente as descartaremos como mentiras ou heresias.
Quanto mais conhecemos a Bíblia, tanto melhor conseguimos analisar as coisas à luz dela. Nossa mente se torna crítica e serve como um filtro que retém todo tipo de impureza de um texto, música ou imagem.
Sempre pensando no que a Bíblia ensina, use o filtro da crítica, da lógica e do bom senso antes de aceitar ou compartilhar alguma coisa. Porém, antes de qualquer coisa, leia, aceite e compartilhe a palavra de Deus.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Estudando a Bíblia com vistas à missão

Já tenho mencionado (nessa postagem, por exemplo) a importância do estudo e conhecimento da palavra de Deus tanto para o cristão individualmente como em virtude da necessidade do testemunho. Hoje quero enfatizar esse segundo ponto e trabalhar a questão com base 1) na instituição do sacerdócio de todos os crentes, 2) na indispensabilidade do conhecimento bíblico para a missão e 3) no papel e importância do ministério pastoral na edificação dos cristãos.
Em primeiro lugar, é fato desde o Antigo Testamento que o povo de Deus é povo de sacerdotes. Todos, sem exceção, são declarados sacerdotes. “Reino de sacerdotes”: Assim a nação israelita é chamada em Êx 19.6. Da mesma forma o Novo Testamento assim afirma a todos os batizados em 1Pe 2.5,9 e Ap 1.6; 5.10.
O sacerdote é alguém que assume uma posição intermediária, mediadora e representativa entre Deus e os homens. Ele tanto fala de Deus às pessoas quanto das pessoas para Deus. Orar pelo perdão de si e de outros e oferecer os sacrifícios ordenados são algumas de suas principais funções. No entanto, a primeira e primordial função de um sacerdote é ensinar a respeito dos oráculos divinos – as Escrituras Sagradas.
Visto que o ensino das Escrituras é a primeira responsabilidade de um sacerdote, acredito que podemos atribuir isso aos cristãos enquanto sacerdotes reais. O fato de que poucos são chamados ao ensino público no ofício do Ministério não significa que os cristãos não podem ensinar a Bíblia aos irmãos na fé ou em um diálogo missionário nas mais diversas situações da vida. Muito pelo contrário, eles não só podem como é seu dever ensinar a palavra de Deus sempre que tiverem oportunidade. No entender de Martinho Lutero, todo cristão é professor de Bíblia. E só há uma maneira de relegar esse professorado: Abandonando o discipulado e a Cristo.
Assim, percebe-se que quando Deus faz de alguém um sacerdote, ele o faz com o intuito de, por meio daquela pessoa, alcançar a outros com sua palavra e trazê-los para si mediante a conversão que sua palavra efetua enquanto instrumento do Espírito Santo. A missão é de Deus. É ele (e não a Igreja) o autor e realizador da missão. Não obstante ele faz questão que façamos parte desse trabalho.
O que temos, portanto, é o honroso privilégio e séria responsabilidade de promulgar a palavra, o ensino e a vontade de Deus conforme registrados na Escritura, tanto a crentes como a descrentes. Assim, servindo como instrumentos nas mãos de Deus para manter a fé e fortalecer o conhecimento do que crê e revelar ao que não crê o mistério da salvação em Jesus. Isso nem de longe é coisa pequena e insignificante, senão a maior honra e dádiva divina de sermos participantes na missão de Deus de buscar e salvar o pecador.
Que alegria sem medida é ver um descrente sendo convertido do seu caminho e se agarrando unicamente a Cristo como salvador e fonte de toda providência e socorro. Até os anjos nos céus festejam e folgam (Lc 15.10). Por outro lado, o que responderíamos ao Salvador naquele Dia, caso questionados a respeito do sangue e da alma daqueles a quem poderíamos ter anunciado o Evangelho e, contudo, não o fizemos? (Cf. Ez 33) O cristão, por isso, é sempre um ponto de luz nas trevas do mundo. Deus, em sua justiça e sabedoria, o coloca onde ele pode fazer alguma diferença pelo testemunho oral e exemplar. A Igreja é fiel no realizar da missão de Deus quando cada cristão, nos ambientes de sua convivência, é fiel no comprometimento de levar Cristo ao seu próximo.
Em segundo lugar, haja vista termos tão grande privilégio e encargo de ensinar a palavra de Deus em virtude do sacerdócio tomado parte no Batismo, é de indizível importância que nos dediquemos ao estudo da Bíblia a fim de cada vez nos encontrarmos melhor preparados para dela falar. Embora seja verdade que o Espírito Santo nos conduz em nosso testemunho diário, de modo que não precisamos nos angustiar sobre o que dizer (Mt 10.20), também é verdade que o Espírito nos ensina pela Escritura, a qual é inspirada por Deus e útil para o ensino (2Tm 3.16).
Por isso, Pedro, após encorajar-nos ao discipulado, diz expressamente: “Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. Chamo a atenção a dois pontos aqui. Primeiro: Santificar a Cristo no coração significa se dedicar, consagrar-se a ele completamente, ser leal ao seu dever como servo de Cristo, o que está imediatamente relacionado ao estar preparado para falar da esperança cristã. Portanto, nenhum cristão está completamente comprometido à causa de Cristo a menos que se prepare para essa tarefa.
Segundo: a palavra do texto original para “responder”, nesse versículo, é apología, que significa falar em defesa, falar contra acusações falsas. Ou seja, as respostas que o cristão precisa estar preparado para dar são aquelas que esclarecem a palavra de Deus mostrando ao acusador que seu pretendido “xeque-mate” está mais para um peão que mal avançou uma casa. Não que Deus precise de advogados, mas que todos, em algum momento, precisamos de esclarecimento, é verdade – especialmente o descrente. O objetivo é levar as pessoas a crerem na mensagem bíblica e, assim, alcançarem a firme esperança da salvação. (Cf. Rm 15.4; Tt 1.9)
Igualmente, prevenindo-nos contra a apostasia, fruto de falsos ensinos, o apóstolo exorta: “Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). E ainda o próprio Salvador vai direto ao ponto em Jo 5.39: “Examinai as Escrituras”. Examiná-las, isto é, não apenas lê-las, porém meditar nelas e procurar aprendê-las com diligente esforço. Por último, ainda podemos lembrar que, na Grande Comissão de Mateus (Mt 28.18-20), Jesus coloca o ensino como algo decorrente ao Batismo e parte da ordem “fazei discípulos”. Ora, é bastante óbvio que não é possível ensinar a respeito do que ainda não sabemos.
Deus criou o ser humano social e comunicativo. Tudo o que sabemos e aprendemos está relacionado diretamente à linguagem. Isso ressalta a necessidade do ensino e o interesse divino por ele, pois é através do ensino que aprendemos e isso também diz respeito ao conhecimento da salvação. Deus ordenou aos pais que ensinassem aos filhos sua palavra (Dt 6.6-7; Ef 6.4). Salomão admoestou repetidas vezes que ninguém despreze a instrução, o ensino e a repreensão (p. ex. Pv 4.13; 8.33; 12.1). Deveras, o ensino bíblico é imprescindível e, portanto, indispensável seu conhecimento.
Em terceiro lugar, ninguém pense que pode estudar a Bíblia e ser igreja sozinho. Pessoas que não vão à igreja sob a alegação de estudarem a Bíblia em casa, antes de qualquer coisa, não entenderam a Bíblia e nada sabem sobre o culto, a Igreja Cristã e o Ministério. Desde que existe Igreja, esta se reúne em algum lugar para ler e meditar nas Escrituras, orar e render graças a Deus com hinos e salmos. O reunir-se está na essência da Igreja. Igreja é corpo (Rm 12.5; 1Co 12.12ss; Ef 4.12; Cl 3.15). Além disso, Deus instituiu o ofício do Ministério precisamente para o fortalecimento da Igreja. Tem, porém, pouco proveito se os cristãos não se reúnem nem o valorizam.
O Ministério não é superior ao laicato, como muitas vezes se pensa. Pastor e membros estão lado a lado, salvo quando aquele ministra a Palavra e os sacramentos, fazendo uso da autoridade recebida da própria congregação. O livro de Êxodo mostra isso ao colocar a instituição do ofício sacerdotal (Êx 28) só depois da “instituição” do reino de sacerdotes (Êx 19). Isso significa que tal ofício tem caráter funcional, isto é, só existe em função do reino de sacerdotes. Em outras palavras, através do ministério pastoral, Deus cria e mantém a fé nos cristãos e os fortalece para o exercício do seu sacerdócio no mundo. Sacerdote que edifica sacerdotes.
O ministro, por isso, é chamado para pregar e ensinar a palavra de Deus e administrar os santos sacramentos. Ele é aquele que se ocupa com a palavra e se empenha em seu ensino (1Tm 4.13; Tt 2.7). Não é sem motivo que o apóstolo Paulo afirma serem merecedores de dobrada honra os que se esmeram em ensinar (1Tm 5.17).
Além disso, não poderíamos esquecer de Ef 4.11ss., com base no qual alguns costumam chamar o pastor de “edificador dos santos”. Ali diz que Deus concedeu pessoas com diferentes funções, dentre elas o pastorado, a fim de que alguns objetivos sejam passíveis de concretização. Um desses objetivos é que todos cheguemos ao “pleno conhecimento do Filho de Deus” (13). Esse “pleno conhecimento” denota um conhecimento mais aprofundado. E a consequência desse conhecimento é que não sejamos levados “por todo vento de doutrina” (14). Mais uma vez, a importância do ensino é colocada em alta estima.
Mais poderia ser dito sobre a pregação ou o diálogo cristão/missionário. Contudo, isso já parece mais que suficiente para frisar a necessidade do estudo sério da palavra de Deus por todos os cristãos, visto sermos todos sido chamados a exercer o sacerdócio real de Cristo lá onde ele nos coloca, ensinando sua palavra de vida e salvação aos irmãos na fé e também ao perdido e condenado.

Recomendamos sobre esse assunto:
KOLB, Robert. Comunicando o evangelho hoje.
SHULZ, Klaus D. Christ’s ambassadors.
ZIMMER, Rudi. O sacerdócio universal dos crentes.